Marco Zero de Brasília reaparece iluminado e resgata a história do início da capital
Redescoberto durante as recentes obras no Buraco do Tatu, o ponto central que marcou o nascimento de Brasília, o Marco Zero, ganha nova visibilidade e iluminação especial em comemoração aos 65 anos da capital. A história deste monumento, fundamental para a construção do Plano Piloto e até hoje referência para a medição de distâncias no Distrito Federal, ressurge para o conhecimento dos brasilienses.
Foi em um 1º de abril, curiosamente, de 1957, que a família do arquiteto Joffre Mozart Parada chegou ao Planalto Central. Ele foi o responsável por cravar o ponto de partida da futura capital: o Marco Zero de Brasília. “Lembro de uma vez que ele parou comigo e disse: ‘Essa vai ser a avenida mais movimentada. Vai ter comércio de um lado e residência do outro. Grava isso.’ E eu gravei”, relembra Gláucia Nascimento, 79 anos, filha mais velha de Joffre, emocionada ao recordar a visão profética do pai.
A família, vinda de Goiânia, encontrou um cerrado tomado por poeira vermelha e um frio intenso. Gláucia recorda os desafios da época, com a cidade em construção. Apesar das dificuldades, Mercedes Parada, esposa de Joffre, apoiou o marido em sua importante missão, inclusive auxiliando na criação do primeiro mapa de desapropriação de terras do DF. “Ela usava um planímetro para medir as áreas e eu ajudava colorindo o mapa”, conta Gláucia.
Joffre Mozart Parada, o primeiro engenheiro a chegar para acompanhar a construção de Brasília, era um homem reservado que faleceu jovem, aos 52 anos. “É impressionante pensar que, com tão pouco tempo de vida, ele fez tanto por Brasília e por tanta gente”, afirma sua filha, a engenheira civil Thelma Parada. Além de seu papel crucial na Novacap, Joffre foi professor da UnB e secretário de Estado, deixando um legado significativo para a capital.
Por décadas, o disco de metal que simboliza o coração de Brasília permaneceu oculto sob o asfalto, no cruzamento do Eixo Rodoviário com o Monumental. Foi durante as obras de recapeamento no Buraco do Tatu, em 2024, que operários o reencontraram. “A gente sempre soube que ele existia, sabíamos que foi meu pai quem o implantou”, ressalta Gláucia sobre a emocionante redescoberta.
Após a confirmação do local por técnicos do DER-DF, com base em registros do Arquivo Público, o Marco Zero passou por intervenções de preservação. Agora, em celebração aos 65 anos de Brasília, a Companhia Energética de Brasília (CEB) instalou um novo sistema de iluminação com tecnologia RGB, capaz de criar milhões de combinações de cores para efeitos especiais em datas comemorativas. A entrega oficial da nova ambientação ocorrerá nos próximos dias.
O historiador do Arquivo Público do DF, Elias Manoel da Silva, enfatiza a importância da redescoberta para honrar a memória de Joffre Mozart Parada: “A cidade foi construída, na sua urbanidade, por Joffre Mozart Parada. Ele é um anônimo na história de Brasília. Com a redescoberta do Marco Zero, a gente pretende honrá-lo e eternizá-lo, de forma concreta, na história do DF”.





