Fruto do avanço na garantia dos direitos das mulheres, o empreendedorismo feminino é um movimento em amplo crescimento no Brasil. Se antes eram restritas aos cuidados domésticos, hoje as mulheres são protagonistas na liderança de grandes negócios. O Dia Internacional das Mulheres, celebrado anualmente em 08 março, serve para lembrar dessas conquistas, mas, principalmente, para lembrar a importância das lutas femininas por justiça, igualdade de gênero e respeito.
Nesse contexto, o Sebrae no DF celebra um acontecimento histórico na instituição: pela primeira vez a Diretoria Executiva é formada exclusivamente por mulheres, que é composta pela diretora-superintendente Rose Rainha, pela diretora técnica Diná da Rocha Loures Ferraz, e por Adélia Leana Getro de Carvalho, diretora de Administração e Finanças. Aliás, Rose Rainha é a primeira mulher a ocupar o cargo de superintendente.
“O empreendedorismo feminino tem papel fundamental na nossa sociedade. É mais do que simplesmente abrir uma empresa. O empreendedorismo ajuda a salvar mulheres da violência doméstica. A dependência financeira inibe muitas delas a denunciarem seus agressores que muitas vezes impedem essas mulheres de trabalhar ou estudar. Acreditamos que podemos romper com esse ciclo de violência por meio do empreendedorismo”, destaca Rose Rainha.
O crescimento da representatividade feminina no universo do empreendedorismo do Distrito Federal é evidenciada por meio do estudo “Empreendedorismo Feminino no Brasil em 2022”, realizado pelo Sebrae a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE. Os dados mostram que o percentual de mulheres donas de negócio no Distrito Federal em proporção a homens é de 35%, acima da média nacional que é de 34,4%.
No DF, o percentual de empreendedoras por conta própria é de 83%, sendo que 17% são donas de negócios que empregam pessoas, número maior que a média nacional (13%). A maior parte dessas mulheres é dona de negócios nas áreas de serviços (53%), seguida de comércio (27%). O recorte de escolaridade de empreendedoras com nível superior no DF também chama atenção: são 35% contra 28% na média nacional.
A dupla jornada de trabalho é um dos principais desafios, pois além das responsabilidades profissionais, muitas mulheres precisam lidar com os afazeres domésticos sozinhas. Segundo dados do IBGE, as mulheres dedicam cerca de 18,5 horas semanais para os cuidados de casa, 8 horas a mais do que os homens em relação ao mesmo tipo de trabalho.
O percentual de donas de negócio no DF que são chefes de domicílio é de 47% diante dos 51% da média nacional. Por outro lado, o rendimento médio das empreendedoras do DF é de R$ 2.908, maior que a média nacional, que é de R$ 2.360.
“Apoiar o empreendedorismo feminino é contribuir para a economia da nossa capital. É trazer dignidade, independência e protagonismo para vida delas. Por isso o Sebrae lançou em 2019 um projeto exclusivo para mulheres, o Sebrae Delas. Por meio de diversas ações o programa incentiva, apoia e fortalece a cultura empreendedora entre as mulheres”, explica Diná Ferraz.
Sebrae Delas
Dados do Sebrae no DF revelam que 3.426 mulheres foram diretamente beneficiadas pelo programa Sebrae Delas em 2022. O Sebrae Delas é um programa que incentiva, apoia e fortalece o empreendedorismo feminino.
O Sebrae acompanha de perto o desempenho feminino nos negócios e, com o objetivo de torná-lo mais competitivo, lançou, em 2019, o projeto exclusivo para elas, Desenvolvendo Empreendedoras & Líderes Apaixonadas pelo Sucesso, o Sebrae Delas. Nele estão contempladas diversas ações para incentivar, apoiar e fortalecer a cultura empreendedora entre as mulheres.
O objetivo é fomentar e profissionalizar práticas empresariais e políticas públicas para valorizar as competências, comportamentos e habilidades das mulheres empreendedoras. O Sebrae Delas promove ações e oferece meios para que as micro e pequenas empresárias possam potencializar seus negócios e seus comportamentos empreendedores. O programa mescla os saberes e a força feminina direcionada aos negócios.
“O Sebrae acredita na força das mulheres nos negócios, e é por acreditar que trabalhamos junto com elas para impulsionar ainda mais o empreendedorismo feminino, fomentando a economia e transformando a realidade do Distrito Federal”, pondera Adélia de Carvalho.
Micro e pequenas empreendedoras ou mulheres que querem abrir um negócio podem participar do projeto.
Motivos que levam ao empreendedorismo
Outro fator que revela a importância do empreendedorismo feminino identificado pelo Sebrae é que as brasileiras empreendem, principalmente, devido à necessidade de ter outra fonte de renda ou para adquirir a independência financeira. Ou seja, o negócio próprio ajuda as mulheres a sustentar suas famílias e diminui ou até acaba com a dependência financeira de um companheiro, por exemplo.
Foi na busca por independência financeira e ter um estilo de vida que combinasse com sua personalidade, que a brasiliense Anne Caroline Lima Martins, 28 anos, viu a oportunidade de empreender e ter sua própria fonte de renda. Hoje ela é proprietária da empresa de dindin “Bom Te Ver Gourmet”, e em 2022 foi contemplada em primeiro lugar com o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria MEI (Microempreendedor Individual).
“Aprendi que por ser mulher, eu precisaria me esforçar muito mais para ser levada a sério, e por ser uma mulher homossexual, eu precisaria me esforçar 10x mais para mostrar que sou competente e especialista no que faço”, relata a empresária.
Contribuição Social
Outro caso de sucesso que contribui com a importância do empreendedorismo das mulheres, alinhado ao empoderamento feminino é o da Matriusca, organização localizada em Brasília – administrada por mulheres -, que desenvolve serviços de Doula e projetos com o objetivo de promover o bem-estar das mulheres.
A empresa foi criada pela paulistana e educadora perinatal Marilda de Cássia Castro, 61 anos, e tem como propósito oferecer suporte físico e emocional às parturientes durante e após o parto. A oferta desses serviços tornou-se mais popular no Distrito Federal, contando atualmente com mais de 400 auxiliares disponíveis no mercado. Esse suporte engloba aspectos emocionais, tais como encorajamento, tranquilização, estímulo de medidas de conforto e prestação de orientações.
“Aprendi que o empreendedorismo para as mulheres está além das atividades desenvolvidas somente dentro de casa. Mas que também poderíamos acessar outros universos, acrescentando as instituições para estarmos juntas umas com as outras neste momento tão vulnerável que é o ciclo gravídico puerperal”, relata Marilda.
Além de contribuir diretamente com a geração de empregos e prestação de serviço social, Marilda também oferece cursos gratuitos de doula para mulheres de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A empreendedora se considera uma ativista e acredita que tudo que a mulher faz pode se tornar um negócio.
“O parto humanizado traz benefícios como a redução da duração do trabalho de parto, do número de cirurgias cesarianas e da depressão pós-parto. Percebi que a doulagem poderia ser um caminho para o empoderamento feminino, a partir do conhecimento de seu corpo e todas as suas potencialidades na vida. É uma atividade revolucionária”, diz.
Quando uma mulher empreende, ela gera a sua volta um ciclo de prosperidade. Dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME, 2019), apontam que mulheres empregam mais mulheres. Apesar de a maioria dos negócios comandados por elas não ter funcionários, 60% quando contratam preferem a mão-de-obra feminina. 45% dos empreendimentos liderados por mulheres são majoritariamente femininos e sete em cada dez empreendedoras possuem sócias mulheres, segundo pesquisa IRME, 2021.