Comfort food, valores justos e delivery ágil: as principais tendências da alimentação para 2023

Ávido por reconexões com amigos e familiares, consumidor deve buscar mais indulgência, mas preço vai pesar na escolha
Após alguns anos sob o signo da saudabilidade, 2023 deve ser o ano em que o consumidor vai em busca da indulgência. Veganismo, sustentabilidade e alimentação saudável seguem em alta, mas agora ganham a companhia da comida que traz conforto e do resgate do prazer de comer. Preços justos e a manutenção das práticas de higiene que ganharam escala ao longo da pandemia de covid-19 também ditam a tônica do ano. As informações são de um relatório de tendências desenvolvido pela consultoria Galunion.
Simone Galante, CEO e fundadora da Galunion, explica que os empreendedores precisam se atentar a macrotendências, mas absorver o que for aderente ao seu tipo de negócio. Um empreendimento que trabalhe com alimentação saudável, por exemplo, deve buscar inovar dentro do seu nicho, sem perder a identidade. “Para gerar resultados é cada vez mais necessário se amparar em dados, tendências e performance”, diz Galante.
De acordo com o estudo, as marcas têm três grandes eixos de inovação para prestar atenção: modelo de negócio, oferta culinária e experiência e hospitalidade. Dentro de cada tema, há uma gama de tendências identificadas para o ano de 2023. Confira as principais em cada um:
- Modelos de negócios: quick commerce, menus reduzidos, parcerias, espaços flexíveis e ESG.
- Oferta culinária: comida saborosa, alimentação saudável, ingredientes mais sustentáveis, impulsos veganos e vegetarianos, indulgência mais permissiva e o novo comfort food.
- Experiência e hospitalidade: consumidor como protagonista, acessibilidade, protocolos de higiene e segurança, reconexão social, valorização das equipes e era dos dados.
Dentro dessas tendências, veja como preparar o seu negócio para faturar mais e atrair novos consumidores em 2023:
Indulgência em alta: comida mais saborosa e preço justo
Encontros com amigos e familiares se tornou a principal motivação para ir a bares e restaurantes (64%), de acordo com levantamento da Galunion realizado em setembro de 2022. Em segundo lugar, vem pratos ou menus novos e inovadores, que não podem ser reproduzidos em casa (44%). “Essas duas como as principais motivações dão sinais claros de que a tendência permeia a indulgência.”
O dado também se reflete nos critérios de escolha de restaurantes. Ter uma comida gostosa (61%) lidera, seguido por Higiene e Limpeza (56%) e Preço Justo (58%). “Basicamente o pedido do consumidor são pratos mais gostosos e baratos, sem perda da qualidade”, diz Galante.
Já os empreendedores têm como principais apostas o investimento em comfort food (27%), sabores que remetam ao prazer de comer (26%) e saudabilidade (23%).
Entre os alimentos que trazem uma sensação de conforto, os consumidores pesquisados enumeraram itens como pizza, lasanha, macarrão, suco e estrogonofe.
Combate à inflação: menu reduzido e parcerias
Houve queda no consumo presencial, de cerca de 25%, e 64% dos clientes justificam a diminuição da frequência do consumo pelo aumento nos preços do menu. “Isso não quer dizer que o consumidor parou de comer fora, mas ele trocou os restaurantes que visita.” A tendência é ainda mais forte em estabelecimentos que atendem no horário do almoço, perto de escritórios.
Para tentar reverter isso, os restaurantes têm apostado na redução do desperdício (63%) e compra com novos fornecedores (57%). O aumento de preço do menu aparece com 47%. Galante aponta que há uma oportunidade para se repensar o menu, reduzindo as opções, bem como buscando parcerias até mesmo com concorrentes, o que é chamado de “coopetição”.
Delivery: quick commerce e bebidas feitas no restaurante
Estabilizados como canais de venda do ramo de alimentação, o delivery e o take away seguem fortes, e são utilizados por 80% dos consumidores – há uma incidência ainda maior na classe A (94%). O iFood lidera (44%), mas também já enfrenta concorrência do WhatsApp (28%) e até do Telefone (8%). Aplicativo próprio do estabelecimento (8%) também ganha força.
Apesar de ser um canal já difundido, o delivery apresentou problemas para 84% dos consumidores pesquisados nos três meses que antecederam a pesquisa. Para eles, 69% dos problemas eram relacionados ao tempo de entrega.
“Aqui está a tendência do quick commerce. Muitas das vezes o problema é logístico. Uma das dores do mercado é desenvolver melhor os fornecedores dessa última etapa da entrega, e deve ser a tarefa do empreendedor neste ano. Assim como se desenvolve um fornecedor de carne, por exemplo, será preciso desenvolver o fornecedor da ponta”, diz Galante.
Outro desafio do delivery é a baixa incidência de entradas, bebidas e sobremesas nos pedidos. Apenas 51% pedem bebidas não alcoólicas para acompanhar a refeição e 44% sobremesas ou doces. A razão para isso é que as marcas difundidas, como as de refrigerante, podem ser facilmente encontradas em outros lugares e o consumidor já as têm em casa.
“Uma das tendências para o setor é desenvolver bebidas ou sobremesas proprietárias que o cliente só encontre lá, que viaje bem no delivery e que se torne desejável pelo cliente, por ser customizada para a ocasião.”
Inovação em sabores com ingredientes típicos
O Brasil é um país ávido por novidades, e isso se refletiu na pesquisa, em que 95% dos respondentes disseram buscar por novidades em alimentos e bebidas nos bares e restaurantes. No levantamento, 68% dizem não seguir nenhuma dieta específica, e 66% têm interesse em produtos com foco em frutas e vegetais (quando o assunto é veganismo).
Entre os principais ingredientes que surpreenderam os consumidores em 2022 estão peixe cru, páprica, pimenta, açafrão, açaí e chimichurri. Galante diz que alguns deles podem ter sido usados em novas receitas ou com variações, como no caso da pimenta, abrindo novas frentes de consumo.
O consumidor quer alterar ou personalizar o produto do seu jeito (85%). Mais do que isso: quer receber sugestões de alterações do pedido com base nas escolhas anteriores (77%). “As novas gerações querem mais personalização e autonomia. A tecnologia será fundamental para isso.”
Futuro: hiperpersonalização e posicionamento serão regras básicas
Para o futuro, a aposta é a hiperpersonalização, ESG, robôs, automação e web 3.0, entre outros. Para os consumidores, os restaurantes precisam ter posicionamentos claros em relação a Sustentabilidade (87%), Transparência em ética e conduta das empresas (83%), Combate à fome e à pobreza (83%) e Gestão de resíduos (82%). “O que a marca faz e como ela se posiciona tem muito a ver com valores e o ESG. É uma grande oportunidade para nos posicionarmos.”
A hiperpersonalização e a sustentabilidade estão empatadas no plano de negócios dos empreendedores, com 33% cada um.
O desenvolvimento de pessoas também deve ser uma máxima dentro do setor, na visão de Galante: 89% dos operadores de foodservice têm dificuldade para contratar e reter trabalhadores. O estudo identificou os outros 11%, que consideram esse aspecto uma “fortaleza” da marca, chegaram a ter um faturamento 78% maior no primeiro semestre do ano passado, em relação aos seis primeiros meses de 2021.