Após fim do Drive ilimitado em universidades, Google está sendo investigado pelo Procon

Em maio do ano passado, o Google anunciou o encerramento do drive ilimitado do Workspace for Education para as universidades, limitando cada instituição em 100 TB que devem ser divididos entre todos os usuários. Na época, a empresa revelou que a mudança aconteceria “por causa do uso indevido dos serviços Google Workspace for Education (antigo G Suite) no armazenamento de filmes, séries e livros”.
Pouco antes da mudança entrar em vigor, o Procon de Juiz de Fora (MG) abriu um processo administrativo contra o Google para investigar o caso, sob a suspeita de que a empresa possa ter ferido os direitos dos consumidores.
O processo do Procon foi catalisado por uma denúncia feita pelo professor aposentado Paulo Vilela, que é ex-diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz Fora (UFJF).
Em entrevista ao TecMundo, Vilela ressalta que é usuário da ferramenta desde 2007 e que fez todo o procedimento técnico para que a UFJF utilizasse o sistema.
O anúncio nos pegou de surpresa porque não pensávamos que um dia o armazenamento ilimitado poderia ser encerrado. O Google não nos informou sobre isso e o serviço não tinha nenhum asterisco dizendo sobre essa possibilidade. E nós achamos ruim a decisão porque ela vai impactar todo o uso da ferramenta e vai afetar um recurso que é vital para as universidades, já que são muitos os dados armazenados em nuvem.
Segundo o acadêmico, a UFJF tem 14 mil usuários com acesso ao Drive e que o montante de dados armazenados gira em torno de 700 TB, o que excede em 600 TB a nova cota estabelecida pelo Google.
Com a mudança, cada usuário deve dispor, em média, de um espaço de 7GB de armazenamento, mas em sua denúncia ao Procon, Vilela alega que a decisão do Google feriu os direitos da comunidade acadêmica porque, dentre outras coisas, ela prevê serviços pagos caso uma instituição de ensino queira aumentar o limite de 100 TB.
O Google usou da prerrogativa que o serviço era de graça e entrou nas universidades com essa condição, já que se fosse pago ele teria que concorrer em uma licitação e esse é um processo bem mais burocrático. Agora que as universidades ficaram dependentes do sistema, a empresa quer cobrar pelo serviço, sendo que é impossível que elas arquem com esses valores, já que os investimentos públicos na educação e ciência têm caído cada vez mais.
Além disso, o docente também se queixa do problema que o Google gerou ao mudar seu modelo de negócios, já que muitos não sabem como gerenciar a exclusão dos arquivos para se enquadrar no novo limite, o que pode gerar um problema institucional.
Vilela revela que tentou resolver a situação com dirigentes do Google antes de procurar o Procon, mas a melhor oferta que conseguiu foi uma extensão do armazenamento ilimitado até o fim de 2022, o que o motivou a procurar o órgão público.
Após a investigação preliminar do Procon, a entidade viu a necessidade de abrir um processo administrativo, em que o Google teria que apresentar uma defesa e uma explicação plausível para a mudança. O prazo para a resposta do Google se encerra no final desta semana.
Em sua defesa preliminar, o Google afirmou que não violou o Código de Defesa do Consumidor e que as alterações no Workspace for Education “estão em conformidade com os termos do Contrato de Prestação de Serviço firmado com os usuários”.
A empresa revela que foi obrigada a adotar um novo critério porque com o passar dos anos, houve um “aumento exponencial” da demanda pelo armazenamento e que isso fez com que empresa repensasse como estava oferecendo o serviço.
Ainda assim, a Google não ignora que esse espaço de armazenamento de 100 TB pode não ser suficiente para todas as estruturas. Por isso, de acordo com a nova política de armazenamento do Workspace, instituições com mais de 20 mil alunos, professores e funcionários ou 20 mil usuários ativos por mês poderão receber espaço de armazenamento adicional.
A empresa também ressaltou que disponibilizou ferramentas de gestão de espaço para “ajudar a identificar e gerir o uso e a alocação do armazenamento”.
Por enquanto, nos resta aguardar pelo resultado da investigação para saber se o Google vai voltar atrás em sua decisão.