‘Home office’ não é home office em inglês; entenda
Termo popular entre brasileiros não é usado por falantes nativos da língua inglesa, explica professora do idioma. Não é a primeira vez que expressão de origem inglesa é adaptada no Brasil.
Uma medida provisória (MP) assinada nesta sexta-feira (25) pelo presidente Jair Bolsonaro traz mudanças nas regras de teletrabalho, conhecido no Brasil como “home office”.
O termo de origem inglesa integra o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2021, e se popularizou durante a pandemia de Covid-19.
Em tradução literal, “home office” significa “escritório de casa” ou “escritório domiciliar”. Mas, em inglês, a expressão não é utilizada e tampouco tem o mesmo sentido aplicado no Brasil. É o que explica a professora de Inglês da Red Balloon Fernanda Lopes.
“Esse termo não se aplica à língua inglesa de forma alguma. O que acontece é que o ‘home office’, da maneira que pensam os falantes da língua inglesa, refere-se ao local de onde se está trabalhando. E as pessoas que trabalham no formato remoto, que não trabalham no escritório, utilizam ‘remote work’ ou ‘remote job'”, diz a professora.
Fernanda explica que as expressões utilizadas por falantes nativos da língua inglesa indicam que seus trabalhos não dependem do ambiente corporativo e podem ser desenvolvidos de forma remota, mas não significa necessariamente que serão feitos de casa.
Então, como surgiu o conceito de trabalho de casa dos brasileiros? Para a profissional, a ideia está diretamente relacionada ao momento de pandemia. “Embora já existissem trabalhadores remotos antes da pandemia, isso se popularizou a partir deste momento”, diz.
“Acredito que a associação foi feita por nós, brasileiros, que temos o costume de adotar termos estrangeiros na nossa rotina e na nossa dinâmica de trabalho e que se associou ao local de onde estamos trabalhando. Então, nossa casa, que é ‘home’, se tornou nosso escritório. Por isso, ‘home office’ passou a ser algo que as pessoas interpretavam como trabalho remoto”.
Mas esta não é a primeira vez que os brasileiros utilizam esta lógica para adotar uma palavra de origem inglesa. O termo “shopping” é outro exemplo bem popular.
“No Brasil, as pessoas adotaram o nome ‘shopping’ como o substantivo que identifica aquele lugar com muitas lojas, onde vão fazer compras. Já em inglês, shopping é um verbo que significa comprar, e ‘mall’ é utilizado para identificar o lugar”, exemplifica.
A junção das duas palavras, ‘shopping mall’, também é muito utilizada em inglês, segundo a profissional, para se referir ao local onde a pessoa vai para fazer compras.
Para Fernanda, os dois exemplos partem de uma lógica de brasileiros de buscar uma tradução literal, que seja equivalente nos dois idiomas, o que nem sempre funciona.
“Não é possível fazer uma ligação direta entre a língua portuguesa e a língua inglesa principalmente pelas origens linguísticas distintas de cada uma. Então, traduzir literalmente uma coisa de uma língua para outra não vai funcionar sempre”, finaliza a professora.
Por Emily Santos, g1 — São Paulo