Reformada, Biblioteca de Brasília faz 32 anos
Nascida no Dia do Bibliotecário (12.3), a Biblioteca Pública de Brasília (BPB) chega aos 32 anos completamente reformada (pintada, com ar-condicionado e piso substituído). É um espaço pulsante de estudos e encontros. Com pátio, poeticamente batizado de Jardim da Leitura, voltado para a Entrequadra 312/313 Sul, a atividade de leitura encontra-se frequentemente com outras ações culturais como sarau e rodas de choro.
“Vou contar uma história/De peleja e de labuta/No lugar de um mercadinho/Que vendia leite e fruta/A Biblioteca Pública de Brasília nasceu/Com esmero e muita luta” (do cordel “A Peleja da Biblioteca Pública”).
Os versos registram a utilidade original da construção onde está a BPB. São da servidora Sheila Gualberto, gestora em políticas públicas do GDF, bibliotecária lotada na BPB desde 2019 e gerente a partir de 2020. “Sou apaixonada por literatura”, orgulha-se, destacando que o investimento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa na BPB foi de R$ 332 mil.
“A Biblioteca Pública de Brasília é um exemplo vivo da resistência e importância das bibliotecas. O Plano Piloto previa suprir as quadras residenciais com escolas, postos de saúde e comércio, mas, no projeto de Lúcio Costa, faltaram bibliotecas. A Biblioteca Pública de Brasília surge justamente da demanda dos brasilienses. É um dos mais importantes equipamentos culturais da capital”, atesta o subsecretário do Patrimônio Cultural, Aquiles Brayner.
HISTÓRIA FASCINANTE
O “mercadinho” que trocou leite e fruta por 21 mil livros foi antes um posto da Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB), espécie de armazém, vocação comercial da W3 ainda nos dias de hoje.
A história da BPB registra que 100 mil assinaturas de moradores da capital forçaram a criação da biblioteca naquele espaço em 12 de março de 1990. Anota também que as bibliotecárias Neusa Dourado e Telma Bandeira comandaram o levante popular “armado” de palavras.
“A inauguração da Biblioteca Pública no Dia do Bibliotecário é muito simbólica por tudo que representa e pela maneira como surgiu. Isso deixa a gente muito feliz”, aponta Rodrigo Mendes, diretor substituto da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB).
A bibliotecária Priscilla Pimentel, integrante do grupo de seis servidoras que trabalham na BPB, está no equipamento há oito anos e enfatiza o pertencimento manifestado pelo público por meio das doações diárias de obras para o acervo.
Mesmo no ápice da pandemia, quando o espaço ficou fechado, moradores das superquadras que a circundam deixavam caixas de livros no portão. Ela diz que sempre foi assim desde que ela está lá. Uma triagem nas doações separa o que é útil para a BPB, e o restante segue para o programa Mala do Livro.
AMOR DECLARADO
No sábado, Dia do Bibliotecário, o Jardim da Leitura ganhou palco improvisado. O clima era de comemoração com livros espalhados pelas mesas. O cantor Jorge Recife, acompanhado de Luiz Henrique no violão e Leandro (percussão), dominava as atenções do público reunido em torno das mesas. Entre canções e poemas de sua autoria, deu testemunhos sobre a importância da Biblioteca Pública de Brasília.
Vocal e guitarrista da Orquestra Popular Marafreboi, Jorge Recife empilhava declarações de amor ao espaço: “a Biblioteca Pública de Brasília tem a maior importância porque é o mosaico de toda a cultura que se tem em Brasília, da pluralidade daqui. Ela traz essa identidade, faz parte da história da cidade, conta a história da capital. Ela reverbera o encontro de culturas do Brasil todo”.
A bioquímica Graça Santos, 74, frequenta a BPB há 20 anos. Diz que o espaço a ajuda a levar a vida “com gaiatice”. Conta que os livros e a atividade cultural local tornam a vida “mais leve e alegre”. Leitora do paraibano Ariano Suassuna (1924-2014), afirma que está “tinindo das pernas à cabeça” e ensaia “aprender a mentir”, como afirmava de si próprio sobre sua maior virtude o autor de “Auto da Compadecida”.
A formanda em Direito Júlia Calazans, 23, buscava na BPB, os livros de sua área, que considera muito atualizados no equipamento. “Faço um uso intenso daqui porque os livros de Direito são muito caros”, justifica.
Os namorados Lucas Sampaio e Daniela Lucene, ambos com 27 anos, moradores da Vila Telebrasília e vindos do Maranhão, gostam de estudar na BPB. Concurseiros, com planos de entrar nos tribunais, destacam no local o “ambiente fresco, silencioso e sem as distrações de casa”.
A BPB funciona de segunda a sábado, dispõe de espaço infantil e disponibiliza computadores e wi-fi, além de 24 cabines de estudo individuais. Recebe em média 80 pessoas por dia, que buscam livros no acervo que reúne obras de referência, literatura brasileira, universal e infanto-juvenil, gibiteca, material para concursos, textos de escritores brasilienses e periódicos.
Texto: Alexandre Freire. Fotos: Daniel Marques /Edição: Sérgio Maggio (Ascom Secec)