Por que tantos jovens querem se tornar influenciadores?
Combo fama e dinheiro atrai a geração z, mas profissionais do setor alertam que profissão exige responsabilidade e autenticidade
O dicionário define o verbo influenciar como o ato de exercer uma ação psicológica ou ascendência sobre algo ou alguém. Este termo, que virou algo extremamente popular para quem utiliza as redes sociais, também vem ocupando o status de profissão dos sonhos para boa parte dos jovens.
Uma pesquisa realizada pela INFLR, adtech especializada em marketing de influência, entrevistou 3100 jovens para avaliar sua percepção acerca das redes sociais. E 75% deles revelaram ter vontade de ser influenciadores. Ou seja: de que suas postagens nas redes sociais sejam relevantes e inspirem outras pessoas. Já 63% dos entrevistados mostraram que aspiram ser uma influência no ambiente digital pelos retornos financeiros que essa atividade pode proporcionar.
A ideia de ter fama e dinheiro não é um anseio típico da era das redes sociais. Há décadas, muitas pessoas perseguem a oportunidade de aparecer na mídia e, consequentemente, serem bem remuneradas por isso. As redes sociais, no entanto, tornaram esse sonho um pouco mais acessível, já que, pelo perfil pessoal, qualquer pessoa pode construir narrativas e histórias, atrair seguidores e, eventualmente, chamar a atenção das marcas.
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Mas não são apenas a ideia de muito dinheiro e fama que fazem com que tantos jovens da geração Z queiram seguir a carreira de influenciador. A ideia de ter uma voz capaz de inspirar – e, diretamente, influenciar os outros – também é atrativa. “A geração Z nasceu em um mundo em que a internet já existia e os mais jovens enxergam nela a oportunidade de trabalharem com o que eles realmente gostam”, destaca Thiago Cavalcante, sócio-diretor da INFLR, empresa responsável pela pesquisa.
O executivo argumenta que, além do dinheiro, muitos jovens veem na profissão de influenciador a possibilidade de representar marcas de que eles gostam e trabalhar com valores em que eles realmente acreditam. Para as empresas, segundo Cavalcante, é muito vantajoso esse tipo de parceria, uma vez que os mais novos estão em peso nas redes sociais e podem se tornar potenciais consumidores.
Fama democrática
Para Murilo Oliveira, CEO e fundador da IWM Agency, empresa especializada em marketing de influência, a internet, de fato, trouxe uma possibilidade nunca antes vista na sociedade de qualquer pessoa poder ser vista. Essa possibilidade, associada a uma certa necessidade de autoexposição, faz com que a carreira de influenciador seja tão atrativa. “Esses jovens e adolescentes buscam serem reconhecidos em primeiro lugar, é uma conjuntura psíquica que já nasce com eles. A ânsia de expor e ser reconhecido está acima dos ganhos financeiros, que são consequência. Eles buscam fazer parte do hype, querem influenciar pessoas e, consequentemente, aumentar a base e relevância. Por isso vemos na geração Z o baixo interesse por trabalhos convencionais, pois ser um influenciador se torna sua prioridade número 1”, analisa o CEO da IWM Agency.
Ser influenciador, hoje em dia, pode ser algo comparado ao sonho alimentado por tantos garotos (e também garotas) no passado, de se tornar um craque do futebol. O exemplo é citado por Saulo Camelo, sócio-fundador da Camelo Digital, empresa especializada em marketing, performance e tecnologia. A carreira de influenciador, segundo ele, “parece glamorosa, que não tenha que trabalhar tanto e de ascensão rápida. O que não é verdade. Os profissionais bem-sucedidos em qualquer área precisam estudar, se dedicar, e trabalhar muito”, alerta.
O CEO da Camelo Digital lista algumas premissas que os jovens que alimentam o sonho de ser influenciador precisam ter. A primeira delas, segundo ele, é saber quem, de fato, é, com suas qualidades e defeitos, sua narrativa, o que ela vai trazer de diferencial e em qual público irá focar.
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Thiago Cavalcante, da INFLR, também destaca que, embora possa ter uma imagem de algo fácil, o trabalho de influenciador exige cuidado e compromisso. “A responsabilidade de impactar a vida de milhões de pessoas todos os dias deve ser levada muito a sério. Os seguidores usam os influenciadores como referência de como ser levada muito a sério. Os seguidores usam os influenciadores como referência de como viver a vida, o que comer, o que vestir e qual opinião ter. Por isso, o poder de influência pode ser um perigo nas mãos de quem não sabe usá-la”, pondera.
Ser um influenciador digital é um trabalho como qualquer outro, que envolve muito esforço, estudo e aprendizado diário, além de foco e objetivos muito bem traçados e um planejamento estratégico e tático, de acordo com Oliveira, da IWM Agency. O executivo destaca a necessidade de entender qual o principal tipo de conteúdo a ser produzido, de avaliar se esse conteúdo tem potencial de público e trabalhar muito a relevância e o engajamento. “Se quer ser um influenciador de sucesso, não pare nas primeiras dificuldades, busque o aperfeiçoamento diário e crie conteúdo que as pessoas irão querer consumir”, aconselha.
Papel e postura das marcas
Se por um lado os aspirantes a influenciadores precisam ter consequência das responsabilidades da profissão, as marcas que escolhem essas vozes para lhes representar também precisam de estratégia e de cautela. Os profissionais que trabalham com marketing de influência alertam que é importante que as marcas escolham influenciadores que dialoguem com seu perfil de interesse. Cavalcante destaca que, por isso, influenciadores menores, com grande engajamento em um público segmentado, podem gerar mais resultados do que influenciadores com muitos seguidores e que questões como identificação e sensação de pertencimento contam muito para os consumidores no momento da compra.
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A metrificação é um ponto importante para as marcas que trabalham com influencers, segundo Saulo Camelo. “Para micros influenciadores, o ponto principal para as marcas é de fugir de profissionais que tenham comprado seguidores e pedir comprovações de engajamento e visualizações em diversos formatos de posts. Para grandes marcas e grandes influenciadores, o principal é fazer uma pesquisa aprofundada sobre reputação, para que a empresa não se filie a alguém que não esteja alinhado com os valores da empresa”, reforça.
Ao considerar as premissas tanto do lado dos criadores de conteúdo quanto para as marcas, não há dúvidas, ao menos entre os especialistas do segmento. “Influenciador é uma das novas profissões do século XXI e tendência mundial. Eles possuem diretrizes padrão de trabalho, possuem carga horária, responsabilidades, empresas abertas para emissão de notas fiscais, paga tributos ao governo e possuem equipes de trabalho que o auxiliem a melhorar seu produto cada dia mais. Se isto não é uma profissão, não sei o que dizer”, finaliza Murilo Oliveira.
Por Bárbara Sacchitiello para Meio e Mensagem