Estudo alerta sobre intolerância religiosa nas redes sociais
Eixo Benguela, coletivo de diversidade racial da Ogilvy, monitorou menções a termos ofensivos feitos entre 2016 e 2022
Expressões como “volta para o mar oferenda” e “chuta que é macumba”, que caíram no vocabulário brasileiro representam, em sua origem, a intolerância religiosa que existe no País. Nas redes sociais, os termos foram citados 31.164 e 53.742 vezes, respectivamente, evidenciando o preconceito para com religiões de matrizes africanas, como candomblé e umbanda, por exemplo.
A informação foi coletada por meio do levantamento “Intolerância Religiosa e seus Reflexos nas Redes Sociais”, feito pelo coletivo de promoção de diversidade racial da Ogilvy Brasil, o Eixo Benguela.
A data escolhida para a apresentação do estudo proposital. Nesta sexta-feira, 21, é celebrado o Dia de Combate à Intolerância Religiosa que, conforme indica o relatório, foi criado em 2007 e ainda é pouco difundido no Brasil, nação marcada pela violência e discriminação. Segundo dados abertos do Disque 100, referentes ao segundo semestre de 2020, 62% dos boletins de ocorrência ligados a crimes de intolerância religiosa foram registrados por pretos e pardos e 37% são relacionados ao candomblé ou umbanda. O coletivo utilizou a Sprinklr, ferramenta que conta com o módulo de Quick Search para monitorar as plataformas digitais com dados que compreendem o período de 2016 a 2022.
Um dos destaques da pesquisa é a análise da Nuvem de Palavras gerada a partir dos termos mais frequentes relacionados ao tema nas redes sociais. No conglomerado, aparecem conceitos como “racismo” e “crime”, mas também outras palavras como respeito e “direitos”. Entre outras ofensas, violências e ataques, a curadoria mostra que “macumba” tem um dos maiores números de menções, com mais de 8 milhões, enquanto “macumbeiro (a)” aparece mais de 1 milhão de vezes — vale ressaltar que nem sempre ambos são mencionados de maneira negativa, uma vez que os seguidores de tais religiões utilizam os termos para auto denominação.
Será que a comunicação esqueceu da diversidade racial?
O ódio pode ser também visto em comparações entre Exú e o demônio (31 mil menções) e entre religiões de matriz africana e o satanismo (9 mil menções). Já em relação à violência em si, a invasão, depredação, agressão e ameaça a mães, pais de santo e terreiros surge mais de 47 mil vezes.
Para além de palavras, o monitoramento também se atentou aos emojis utilizados em conversas sobre religiões de matriz africana. Para se referir ao “atabaque” ou ao sacerdote “Ogan”, o tambor foi usado por 2.090 vezes, enquanto o símbolo de pomba branca foi mencionado em mais de mil conversas como referência à Oxalá. Já Oxossi, outra divindade, foi representado pelo emoji de arco- flecha. Iansã, Oxumaré e Exu foram ilustrados por figuras de raio, arco-íris, e tridente e cartola, respectivamente.
Nancy Silva, gerente de estratégia de conteúdo da Ogilvy, alerta que a maioria das conversas sobre intolerância religiosa na internet são estimuladas por notícias ou situações envolvendo violência, ataques e crimes, sobretudo, em relação às religiões de matriz africana. O relatório traz exemplos de manchetes jornalísticas que indicam intolerância religiosa como “Anitta é atacada após publicar foto com pai de santo em rede social” e “Relatório da CPI da intolerância religiosa da Alerj sugere criação de força-tarefa”.
“A proposta com o estudo é trazer a conversa de forma construtiva e educativa, inspirando uma troca mais respeitosa e empática. A fé é uma escolha muito íntima e um direito que deve ser exercido de forma livre, como é assegurado pela constituição”, acrescenta a executiva. “O Dia de Combate à Intolerância Religiosa nunca foi debatido como data de reflexão. Até porque descobrimos através do interesse das pessoas em buscas no Google que há muita dúvida para entender o termo ‘intolerância religiosa’”.
*Crédito da imagem do topo: supakritleela/shutterstock
* Do meioemensagem.com.br